Se penso, logo existo. Mentira.
Frase célebre de René Descartes, já todos conhecemos, Penso, logo existo. Mas, permitam-me, venho aqui dizer-vos que é mentira. Bem sei que esta frase foi dita pelo fundador da Filosofia Moderna e pelo pai da Matemática, mas, volto a repetir, é mentira. Se Descartes fosse realmente pai de alguém, formularia da seguinte forma, Se tenho filho, logo não existo.
Isto não é nenhuma novidade, já nos tinham avisado, e hoje todos os progenitores já o sabemos.
-Ah, o senhor é o pai do fulano. Leia-se em lugar de fulano o nome do seu catraio.
-Sim, sou o Diogo!
-Sim, sim. - responde-me como dizendo, e isso a mim o que é que me interessa?Nunca se vai lembrar do meu nome, tal como eu apenas sei o nome do seu filho.
Fim de semana chegamos a casa dos avós, reparem que já escrevo desde a sua perspectiva.
- Olá mãe, tudo bem?
-Olha quem está aqui! Ai este pequenino, ai que saudades, deixa-me pegar-te ao colo.
-Olá pai, ‘tás bem?
-Olha o maior reguila de todos, dá um abraço ao avô.
Passados vinte minutos, ai filho nem te falei. Tás bom?
Na escola, “Pai, não se esqueça de trazer um chapéu.”
Na natação, “Pai, pode renovar a matricula a partir de dia um”.
No centro de saúde, “É o pai do bebé? O médico hoje está atrasado.”
No bar, “Pai, não pode entrar aqui com um bebé.”
Hoje precisei de uma foto minha de corpo inteiro. Encontrei dezenas de fotos mas em todas lá estava ele, o meu filho. Nem uma foto contendo apenas este vulto que chamo, meu corpo. Pensei logo em usar aquelas aplicações que removem figurantes indesejados das fotos, mas de seguida pensei, não vou remover o meu próprio filho. Que chatice. Lá fui ver mais fotos: Diogo e seu filho, há dezenas delas; fotos do meu filho, há centenas; fotos do Diogo, nem uma existe.
Bye bye pai, diz ele a rir-se.