Reflexo da chuva

Reflexo da chuva
Lisboa - Vista de uma varanda no bairro da Graça

Às vezes a chuva chove
e os pingos não me molham
outras vezes não chove
e sinto-me encharcado

Quando sentes é tanto
por isso escolheste
tantas vezes
nada sentir

Erguem-se muros
e paredes de betão
para tapar o coração

Ouve-se apenas a razão
suprime-se a emoção
julgamos e culpamos
no lugar de aceitarmos.

Resistimos
aguentamos
contraímos
e assim
sofremos.

Quanto mais gritas aos outros
mais te gritas a ti.

Quanto mais culpas o outro
mais culpa albergas dentro de ti.

Quanto mais julgas o mundo
mais te estás a julgar a ti.

Quando ele te traiu
experimenta, no silêncio da noite,
no esplendor da sombra,
perguntar-te,
quantas vezes é que eu
deixei de ser fiel a mim?

O egoísmo que vês no outro
é lacerante,
arrisca um dia perguntar-te,
quantas vezes deixaste de fazer a tua vontade
para satisfazer a vontade do outro?

Não há sorte nem azar
não há caminhos melhores ou piores
há caminhos

Há o teu caminho
e foste tu e só tu
com toda a consciência
que o escolheste
melhor abraçá-lo e ser gentil
que estar uma vida inteira a fugir de ti.