Reflexo da chuva

Às vezes a chuva chove
e os pingos não me molham
outras vezes não chove
e sinto-me encharcado
Quando sentes é tanto
por isso escolheste
tantas vezes
nada sentir
Erguem-se muros
e paredes de betão
para tapar o coração
Ouve-se apenas a razão
suprime-se a emoção
julgamos e culpamos
no lugar de aceitarmos.
Resistimos
aguentamos
contraímos
e assim
sofremos.
Quanto mais gritas aos outros
mais te gritas a ti.
Quanto mais culpas o outro
mais culpa albergas dentro de ti.
Quanto mais julgas o mundo
mais te estás a julgar a ti.
Quando ele te traiu
experimenta, no silêncio da noite,
no esplendor da sombra,
perguntar-te,
quantas vezes é que eu
deixei de ser fiel a mim?
O egoísmo que vês no outro
é lacerante,
arrisca um dia perguntar-te,
quantas vezes deixaste de fazer a tua vontade
para satisfazer a vontade do outro?
Não há sorte nem azar
não há caminhos melhores ou piores
há caminhos
Há o teu caminho
e foste tu e só tu
com toda a consciência
que o escolheste
melhor abraçá-lo e ser gentil
que estar uma vida inteira a fugir de ti.