Podem

Podem

Podem impor-me um trabalho
aumentar-me a renda
proibirem-me de sair de casa
e eu direi sempre o mesmo.

Podem subir os preços
reduzir-me o ordenado
obrigar-me a trabalhar mais anos
a verdade continua a mesma.

Podem chamar-me nomes
impor-me uma máscara
rescrever o passado
mas não há jeito
continuarei a pensar o mesmo.

Podem dar-me ordens
Tentar impor-me ideias
Subjugar-me aos vossos comandos
Mas nos meus sonhos
meus caros,
nem eu mando.

Podem dizer o que quiserem
Proibirem tudo, se desejarem
Mas enquanto a chuva cair
Não poderão parar
cada cabeça de pensar

Poderei não ter liberdade para falar
ou defender as minhas opiniões
posso até desaparecer
Mas certo é,
que as minhas ideias irão sempre viver.

Liberdade para escrever
para criar
para sonhar
para nada fazer
para viver
para estar
para sentar-me, respirar e observar
a vida nunca será só trabalhar
sempre foi um milagre para viver e apreciar.

Não sou a matéria-prima
da tua fábrica
ou a carne de canhão
para as tuas guerrilhas
ou o operário para encher-te os bolsos
ou a colher para encher-te a barriga.

Não sou mais nem menos do que ninguém
Sou aquilo que mais ninguém pode ser
Sou eu, e o meu prazer de viver.