E um dia

E um dia 
assim de mansinho
com o mar calmo
e perfumes de maresia 

Nas cores amareladas 
do início da madrugada
vi um barco pela praia zarpar
partiu, 
para nunca mais voltar

E tu na praia ficaste
atolado com os pés na areia
de frente para a rebentação
com os olhos e as ideias 
presas a essa embarcação

O imenso mar,
de tantas formas e cores
infinitas possibilidades
e tu ficaste
preso às saudades

O mar nunca está parado
Para ele, não existe futuro ou passado
Mas tu, na praia ficaste

O mar, 
nunca voltará a ser o mesmo
nunca foi
e esse barco 
já tu sabes
já foi

E na praia ficaste
até não haver nada
definhaste
nada mais para dar, 
entregaste
Até nada mais para deixar
Foram dias depois 
quando acordaste

Peguei nas pernas
fui ao cemitério
as ideias lá deixei
fiz-me à estrada
e nu caminhei

Só se pode renascer 
depois de se morrer