As ondas

Há uma euforia quando elas vêm
um vazio quando se vão

Há esperança quando dizem que vêm
uma secura quando não

Há tempestade quando estão desordenadas
vaidade quando nos estão designadas

Há alento quando nos levam
mistério quando nos enrolam

Há admiração quando são impossíveis
nostalgia quando são memoráveis

Há fascínio quando as apanhamos
amor quando as deixamos

Há receios quando nos colhem
semanas que nunca aparecem

Há continuidade quando são constantes
vinho quando são amantes

Há preces para virem
medos de nunca mais chegarem

Há apreensão quando são enormes
alívio quando dormes

Há satisfação quando nos visita
abundância que fica

Há cansaço quando foram boas
aflição quando se vão

As ondas da inspiração vão e vêm
não vêm a pedido
não esperam por nós
algum dia hão de vir

Até lá,
nada podemos fazer,
só nos resta
sentar-nos todos os dias,
e todos os dias escrever