Más companhias
Jorge vamos jantar! Já vou. A comida já está no prato! Já vou. Jorge, estamos todos à mesa à tua espera. Epá fogo ´tá bem, já vou!
Jorge tinha entrado há dois meses em Ciências da Linguagem na Universidade de Lisboa. Viviam em Carnaxide, arredores de Lisboa. A dez quilómetros da capital mas de autocarro precisava de mais de uma hora para chegar ao Marquês de Pombal. A pacatez deste dormitório prezada pelos pais, era o que Jorge mais abominava. Um cemitério de prédios como lhe chamava. Aqui nada acontecia: há mais carros nas ruas que pessoas, mais prédios plantados que árvores, não há um campo de futebol, uma atividade para se inscrever, todas as abelhas recolhidas nas suas colmeias, aqui não há nada fazer, apreciar ou para ver, apenas drogas para meter.
Jorge chegou à cozinha. Domingos, o pai, flamejava raiva pelos olhos, Ofélia, a mãe, projectava desilusão pela face. Jorge, é todos os dias a mesma coisa. Temos de estar sempre a gritar para te chamar para a mesa, e já sabes que não gosto nada de gritar.
-Então porque é que gritas?
- Porque tu me obrigas. Para ver se de uma vez por todas entendes que quando te chamamos para a mesa é para vir logo.
-Foram só cinco minutos.
-Mas quais cinco minutos! A primeira vez que te chamamos eram oito horas, agora são oito e um quarto, isso parece-te cinco minutos?! - sentado à cabeceira da mesa, Domingos gritava nas trincheiras enquanto voavam munições de algum inimigo e fumegava vapor da comida do prato.
-Pronto, vamos lá jantar todos. Não vale a pena mais gritos e discussões. E a ti, meu filho, não te custa nada vir para a mesa quando te chamam, é o mínimo que podes fazer.
Jorge olhava a para a mesa e via a irmã, a sua cara de dez anos amedrontada implorava-lhe, senta-te por favor.
-Bife com esparguete? Mas quem é que come esparguete como acompanhamento?
-Coisas da tua mãe, também lhe fiz a mesma pergunta.